quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A CULTURA DO DESENHO COMO COMUNICAÇÃO E SUPORTE EM DIVERSAS ÁREAS DE FORMAÇÃO
Valéria Nancí de Macêdo Santana[1]
PPGDCI – UEFS (BA), Departamento de Letras e Artes
valeriananci@ig.com.br

Resumo
Venho observando, ao longo de 11 anos de regência em sala de aula, a urgente necessidade da utilização de novos meios/modos de trabalhar o conhecimento a partir de suportes que facilitem e mediem a aquisição deste de uma forma efetiva e eficaz. Por mais tecnologias que possam surgir, como o que vem acontecendo rotineiramente, a cultura do Desenho como comunicação e suporte em diversas áreas de formação, sobretudo o feito de modo artesanal e simples, se não é, deveria ser uma realidade emergente, pois ele auxilia, e muito, no processo de construção e aquisição da ciência. Talvez por conta das minhas duas áreas de formação, Licenciatura em Geografia e Bacharelado em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda, e meu ingresso no Mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS-BA), a visão de fusão de vertentes acadêmicas tenha se tornando cada vez mais uma verdade e eu tenha passado a ter em mente, sempre, a ideia de uni-las com o intuito de agregar e tornar o processo ensino-aprendizagem realmente significativo. Por isso, este artigo sobre o tema “Cultura do Desenho & Áreas de Formação”, inserido no eixo temático “Cultura, Pertencimento e Diversidade no Educar, traz o resultado da minha experiência, no estágio docência, enquanto mestranda da referida pós-graduação Stricto Sensu, junto aos alunos de graduação de diversos cursos da UEFS-BA, com o objetivo de demonstrar o quanto a comunicação visual via Desenho pode ser útil na aplicabilidade prática da mesma nas mais diversas áreas de formação. Na oportunidade apresentei a teoria perante o conhecimento e uso da comunicação visual via Desenho nas mais variadas graduações, e os discentes me devolveram resultados de aprendizagem, na prática, com a aplicação deste conhecimento via relatos de como utilizar este suporte em suas profissões e com uma produção física de material em sala de aula: desenhos de capas de discos - meu objeto de estudo.
Palavras-chave: Cultura do Desenho, Comunicação Visual, Graduação.

Abstract
I have watched over 11 years of conducting classroom, the urgent need to use new means / ways of working knowledge from media to facilitate and mediate the acquisition of this in an effective and efficient manner. For more technologies that may arise as to what is happening routinely, the culture of design as communication and support in various areas of training, especially handmade and made so simple, if not, should be an emerging reality, because it helps , much in the process of construction and acquisition of ciência.Talvez on account of my two training areas, and Bachelors Degree in Geography with specialization in Social Communication in Advertising, and my entry into the Master of Design, Culture and Interactivity State University of Feira de Santana (UEFS-BA), the vision of merging academic aspects have become more and more a fact and I have gone to keep in mind, always, the idea of ​​uniting them in order to aggregate and make the teaching-learning process really significant. Therefore, this article on "Culture Drawing & Training Areas", inserted into the main theme "Culture, Belonging and Educating in Diversity", brings the result of my experience in the teaching stage, while the said graduate student graduate Sensu stricto, with students from various undergraduate courses UEFS-BA, aiming to show how visual communication through design may be useful in the practical applicability of the same in various areas of training. On the occasion presented the theory to the knowledge and use of visual communication through design in various degrees, and students returned me learning outcomes in practice, the application of this knowledge through accounts of how to use this support in their professions and a physical production of material in the classroom: drawings of album covers - my object of study.

Keywords: Culture Drawing, Visual Communication, Graduation.



Introdução
No ano de 2012, quando me vi na oportunidade de, enfim, dar aula no ensino superior (via estágio docência, claro), imaginei fazer um plano de estágio que contemplasse meu objeto de estudo (desenho de capas de discos) e algo que, efetivamente, interessasse aos alunos. Para que isso fosse possível precisava estagiar numa disciplina que tivesse a ver com o que pretendia: escolhi uma denominada Técnicas e Recursos Audiovisuais. Em conversa com o professor regente da mesma, Dr. Edson Ferreira, descobri que esta era optativa e, portanto, oferecida para diversos cursos de graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS – BA). Assim sendo, tudo o que eu resolvesse fazer dali em diante, deveria servir para toda e qualquer área de formação à qual eu me deparasse. Pensei, refleti e cheguei ao título “Leitura sem palavras: a comunicação visual como suporte para a formação em áreas de graduação”, aonde o Desenho viria a ser o foco deste trabalho -  o qual  veio a se transformar neste artigo aqui denominado “O Desenho como comunicação e suporte profissional em diversas áreas de formação”.
Resolvi por trabalhar com aspectos do Desenho como comunicação visual, além dos elementos que o acompanham, tais como cores, fontes e diagramação, como suporte para diversas possibilidades de uso nas mais variadas áreas de graduação tais como licenciatura em: Matemática; Geografia; Letras com Espanhol; Letras Vernáculas; Pedagogia e, até mesmo, com bacharéis em Administração, etc. 
O trabalho desenvolvido foi feito, primeiramente, com base em observação, no caso da aula do professor regente titular da disciplina; posteriormente com minha regência enquanto docente (mestranda), explicitando sobre a teoria do Desenho enquanto Comunicação Visual e sua prática enquanto aplicabilidade nas profissões de cada um dos espectadores da aula procedida. Posteriormente foram feitos métodos práticos sobre esta comunicação visual, vinculando a proposta ao meu objeto de trabalho na dissertação de Mestrado sobre a linguagem dos desenhos das capas de discos da Bossa Nova à Tropicália – o que veio a findar na apresentação dos resultados pelos discentes.
Todo o conteúdo teórico e prático deste estágio foi assim designado e feito porque entendo que a linguagem via comunicação visual do Desenho é imensamente rica e relevante para os diversos cursos de graduação porque através da mesma chegamos a resultados inimaginados via qualquer outro tipo de comunicação: podemos criar situações e possibilidades únicas em quaisquer áreas de formação através do uso imagético, sobretudo a partir do Desenho.
Assim sendo, a seguir, relato o passo-a-passo de tudo o que foi feito, porque foi feito, como foi feito e a aprendizagem do que foi feito, por mim e pelos alunos das turmas TP01 e TP 02 da disciplina Técnicas e Recursos Audiovisuais, nos dias 03, 09, 10 e 16 de maio de 2012, chegando, assim, a uma conclusão geral da importância da compreensão e aplicabilidade do uso do Desenho nas mais diversas áreas de formação para as futuras profissões. 

1. Apresentação e observação
No meu primeiro contato com as duas turmas com as quais eu viria a trabalhar, apresentei-me, junto com o professor regente da disciplina, e disse às mesmas o que seria feito por mim nas próximas aulas. Aliás, diga-se de passagem, o que acabou por motivar este trabalho foi o fato de que
[...] Ao contrário da propalada civilização das imagens, vivemos em uma civilização fortemente marcada pela hegemonia da palavra. Aliás, acredito que serão necessárias muitas décadas de desenvolvimento dos meios audiovisuais para que o discurso das imagens se imponha como uma forma de comunicação e pensamento tão disseminada quanto o discurso verbal é atualmente. (MACHADO, 2001, p. 17).

                É certo que muitas pessoas têm ainda em mente, apenas, a ideia de que leitura diz respeito só, e tão somente, às palavras – talvez daí mesmo venha o fato de relegar sempre a imagem desenhada a segundo plano. 
Nesse contexto falei sobre o plano de estágio a ser realizado e que pretendia ter uma contribuição significativa nas atividades acadêmicas e profissionais dos graduandos ali presentes utilizando o recurso do Desenho como linguagem de comunicação visual. Na sequência observei, como proponente deste plano de estágio, a aula do professor regente da disciplina Técnicas e Recursos Audiovisuais.
Registrei o conteúdo da aula, a metodologia utilizada pelo professor/regente, a recepção dos alunos diante dos procedimentos ali efetuados e demais ações significativas. Neste dia o que mais me chamou atenção foi a receptividade dos alunos diante de um filme de 30 minutos chamado “O olho do observador”[2], onde um mesmo episódio é narrado duas vezes: a primeira vez, sob o ponto de vista de pessoas que observaram os fatos; a segunda através dos olhos do personagem principal. Nesta aula, os alunos observaram que os mesmos fatos levam a interpretações completamente diferentes. Um filme muito interessante, sobretudo para aprimorar as habilidades de percepção, análise e julgamento. Ao término do filme, o professor abriu espaço para mais discussões e o que vimos foram colocações, as mais diversas, ambas as turmas foram muito participativas e interessadas.
O que se sente e se percebe é que “As imagens, como um todo, transcendem o pensamento e ativam o imaginário. [...] A imagem existe porque houve contiguidade física, é a própria emanação de um passado real. É uma verdadeira magia”. (JOLY, 2006, p. 129).
Vi, naquele dia, que cada aluno, claramente, compreendeu que a percepção das imagens depende das diversas interpretações feitas por eles; viram que o ponto de vista muda a percepção das coisas; e entenderam que a discussão sobre a percepção do filme, dos slides e da interligação com os textos[3] estudados nas aulas, lhes trouxe mais suportes para o entendimento do que é imagem. O fato de interpretar fazendo uma leitura minunciosa, naquele momento, revelou que alunos de diversas graduações e pensamento diferenciados chegaram a incríveis ideias a respeito do ali estava posto. Foi encantador participar daquilo, sobretudo porque “(...) no que concerne às linguagens visuais, entre elas o desenho, a leitura, quando muito, se limita ao elemento visível, dificilmente há interesse maior pela interpretação de elementos que, na imagem, transcendem esta dimensão”. (FERREIRA, 2005, p. 6).
Para mim, enquanto docente (mestranda), a aprendizagem deu-se em compreender o quanto os alunos têm um vasto entendimento dos conteúdos pela percepção da comunicação visual via imagem fílmica, dando-me ideias para futuros trabalhos de ensino-aprendizagem, introduzindo o Desenho como comunicação visual.

2. A teoria
Apresentei os elementos da comunicação visual desenhística e sua interligação com o uso didático na sala de aula e na vida prática. Falei, paralelamente,  do uso das fontes; cores; disposição dos elementos (planejamento gráfico) como elementos do Desenho.
              Expus o conteúdo através do uso de slides, vídeos, utilizando como exemplo campanhas publicitárias, imagens nos livros didáticos e capas de livros. Tudo foi muito dinâmico, pois houve, durante toda a exposição, a interferência discente com questionamentos de forma muito produtiva.
            Em seguida enfoquei o Desenho das capas de discos da Bossa Nova e da Tropicália: mostrei-lhes imagens e demonstração de como fazer a análise via comunicação visual – o conteúdo foi apresentado através do uso de slides com o objetivo que os alunos visualizem e compreendessem este tipo de análise para confecção, posterior, por parte deles, de materiais de comunicação visual utilizando o Desenho.
            Depois, a partir do conteúdo dado, solicitei aos alunos que listassem, individualmente, em seus cadernos, ao menos 3 aplicabilidades da comunicação visual desenhística em suas futuras áreas de atuação – o que seria utilizado em aula posterior, de uma outra forma.
            Ao final da atividade, solicitei que os alunos trouxessem, na aula seguinte, materiais tais como: lápis de cor, hidrocor, cola, tesoura, revistas para recortar, jornais para recortar, régua, compasso, folhas de ofício, cartolinas brancas, máquina fotográfica, lápis, etc, para uso prático relacionado ao conteúdo explicitado.

3. A prática
Partindo do pressuposto de que os discentes compreenderam todos os aspectos da comunicação visual via Desenho, inicialmente, eu expus um briefing e sua aplicabilidade quando da confecção de materiais comunicacionais visuais – expliquei-lhes o que é um briefing, para que serve e como elaborar - conteúdo trabalhado via slide.
            Antes de iniciar o trabalho prático, fiz as seguintes observações acerca do material a ser produzido na aula em voga, para a semana seguinte:
Expliquei-lhes que iriam produzir o Desenho de uma capa de disco e confeccioná-la a partir de um briefing, também por eles feitos e que este material seria apresentado na aula seguinte, junto com a outra atividade da aplicabilidade da comunicação visual desenhística (atividade feita por escrito na aula anterior) nas futuras profissões de cada membro da equipe.
Na sequência, dei aos discentes um briefing em branco, como modelo a seguir, e lhes solicitei que se dividissem em grupos e procedessem, pela lógica do conteúdo trabalhado.
Solicitei aos grupos suas respectivas propostas de comunicações visuais: elaboração desenhística para a confecção de uma capa de disco sobre rock; axé; forró; MPB.
            Percebi, a princípio, a preocupação de alguns componentes dos grupos em imaginar que não conseguiriam realizar as atividades por não terem muito contato com o uso e a produção da comunicação visual via Desenho, o que era perfeitamente compreensível, sobremaneira por saber que "Criar uma imagem consiste em ir retirando do objeto todas as suas dimensões, uma a uma: o peso, o relevo, o perfume, a profundidade, o tempo, a continuidade, e, é claro, o sentido”.  (BAUDRILLARD, 1997, p.32).
            No entanto, com o passar do tempo, o que vi foi que aprendizagem nessa atividade foi bastante significativa: na produção do briefing, por exemplo, pelo fato de os discentes perceberem que as comunicações visuais imagéticas necessitam de um planejamento e que não são feitas de modo aleatório; na confecção das capas dos discos, por ver nos mesmos a satisfação e produtividade daquele material de comunicação visual, tendo o briefing como roteiro a ser seguido, e percebendo nos alunos o entendimento dos conteúdos trabalhados, na aula anterior, sobretudo enquanto aplicabilidade nas suas vidas diárias e futuras profissões. 
            Para mim, enquanto docente, a aprendizagem deu-se no sentido de ver o quanto, em pouco tempo, pude fazer os alunos produzirem quando lhes passei um conteúdo sobre Desenho como forma de comunicação, através de um método motivacional.

4. O produto
Este foi um dia de observação, por parte do professor regente da disciplina Dr. Edson Ferreira, tanto dos alunos da sua disciplina Técnicas e Recursos Audiovisuais, quanto da minha prática enquanto mestranda estagiando em sua disciplina: era, portanto, o dia das apresentações de tudo o que solicitei aos alunos após minha aula teórica sobre os aspectos da comunicação visual desenhística. Cada equipe deveria apresentar as capas de discos produzidas e a relação do conteúdo que trabalhei nas práticas profissionais deles (tudo via slide e só com imagens).
As apresentações foram feitas, por parte dos alunos da disciplina, para demonstrar que os mesmos haviam entendido tudo o que eu havia lhes explicado, tanto na produção de uma comunicação visual, quanto, numa possível aplicação deste conteúdo em suas práticas pessoais e profissionais.
A observação pelo professor regente da disciplina, Dr. Edson Ferreira, foi necessária para a sua compreensão do que fora feito, por minha parte como docente (mestranda), enquanto trabalho com as turmas da disciplina Técnicas e Recursos Audiovisuais.
Primeiramente houve a apresentação, por parte discente, das produções feitas nas aulas anteriores - em slides, sem explicações por escrito. Depois, o professor regente da disciplina fez suas colocações acerca do estágio, em si, do conteúdo trabalhado e seus reflexos na sala de aula.
            A turma TP 01 apresentou seus materiais físicos produzidos de capas de rock (figura 1), axé (figura 2), forró (figura 3), e MPB (figura 4), com extrema desenvoltura.
Figuras 1 e 2 - Capa de disco de Rock e  Capa de disco de Axé
Fonte: Arquivo pessoal

 Figuras 3 e 4 - Capa de disco de Forró e Capa de disco de MPB
Fonte: Arquivo pessoal

Os resultados dos materiais da turma TP 02 não foram muito diferentes: todos foram muito bem sucedidos. As capas dos disco de rock (figura 5), de axé (figura 6), de forró (figura 7), e de MPB (figura 8), foram produzidas de modo bastante interessante.
Figuras 5 e 6 - Capa de disco de Rock e Capa de disco de Axé
Fonte: Arquivo pessoal
   


Figuras 7 e 8 - Capa de disco de Forró e  Capa de disco de MPB
Fonte: Arquivo pessoal

            Entendo que as apresentações, deste dia, das capas de discos, e consequentemente da comunicação visual aplicada à prática profissional de cada membro das equipes, foi de um ganho substancial para os discentes desta disciplina, sobretudo pela forma como os mesmos expuseram o que aprenderam enquanto conteúdo. Todos, sem exceção, foram bastante felizes em suas colocações e apresentações, deixando a mim, e ao professor Dr. Edson Ferreira, satisfeitos diante do que presenciamos.
            Minha aprendizagem maior, neste dia, deu-se ao ver a gama de novas possibilidades que os alunos trouxeram em suas apresentações: muitos foram além do que eu esperava, fazendo da criatividade seu maior trunfo.

Conclusão
Desde quando pretendi fazer um plano de estágio para os cursos de graduação da UEFS, imaginei, primeiramente, contemplar no mesmo meu objeto de estudo (a linguagem visual via Desenho das capas de discos da Bossa Nova à Tropicália), no Mestrado em Desenho Cultura e Interatividade, desta mesma instituição e, por conseguinte, a disciplina Técnicas e Recursos Audiovisuais, comandada pelo professor Dr. Edson Ferreira. Por isso resolvi por trabalhar com Comunicação Visual desenhística e nela interligar com aspectos ligados às mais diversas áreas de conhecimentos possíveis.
Para mim, estes dias serviriam como experiência vivida e compartilhada de forma intensa, participativa e colaborativa no meu processo de formação para a docência no ensino superior.
Para eles, os discentes da graduação, vi, a cada dia, o crescimento e interesse diante do que ali estava sendo exposto por mim: eles debateram, produziram e, acima de tudo, se envolveram. Utilizaram, mais que lápis, borracha, recortes, bricolagens: usaram a criatividade!
Entendo que tanto eu, como todos os alunos, sem exceção, que participaram deste processo junto comigo, tivemos a oportunidade de trocar experiências únicas quanto ao entendimento, prática e uso da comunicação visual via Desenho nas diversas áreas de conhecimento nos cursos de graduação, sobretudo da UEFS, que foi meu foco de trabalho. Entendo também que a consequência disso tudo é a chegada ao objetivo real traçado no início deste artigo: demonstrar aos discentes que o Desenho, eqnaunto Comunicação Visual, é (e deveria ser sempre) um grande aliado na prática profissional de cada um deles. E, de resto, que a vida, então, se encarregue de desenhar o melhor caminho a ser seguido por todos nós!

Referências
BAUDRILLARD, Jean. O Sistema de Objetos. São Paulo: Perspectiva, 1997.
FERREIRA, Edson. Desenho e Antropologia: influências da cultura na produção autoral. GRAPHICA, 2005.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Trad. Marina Appenzeller, Campinas, 10. ed. São Paulo: Papirus, 2006.
KELLNER, Douglas. Alienígenas na Sala de Aula. Petrópolis: Vozes, 1995.
MACHADO, Arlindo. O quarto iconoclasmo: e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rio Ambiciosos, 2001.







[1] Autora deste artigo, Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana-BA, Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana - BA, Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade Salgado de Oliveira - RJ, Especialista em Formação Continuada em Mídias na Educação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BA e Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade - PPGDCI na Universidade Estadual de Feira de Santana-BA. Atua como professora de Geografia pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. E-mail: valeriananci@ig.com.br.
 [2] Filme “O olho do observador. The eye of the beholderthe eye of the beholder”. BN Communications (EUA). Créditos: BN Communications (EUA). Filme. Duração: 30 min.
[3] Textos de Douglas Kellner, Alienígenas na Sala de Aula. Petrópolis: Vozes, 1995. E Martine Joly, o capítulo 1 de introdução à análise da imagem. Campinas, 10. ed. São Paulo: Papirus, 2006.

O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS SUPORTES FONOGRÁFICOS E O DESENHO NAS PRODUÇÕES CAPISTAS: DO DESTAQUE NO LP AO DESCASO NO MP3

Sessão Coordenada: Desenho, desenvolvimento tecnológico e interdisciplinaridade



Valéria Nancí de Macêdo Santana[1]
UEFS - BA
valeriananci@ig.com.br


RESUMO: O Desenvolvimento tecnológico dos suportes fonográficos trouxe consigo diversas mudanças, desde o surgimento dos primeiros discos até os dias atuais, não apenas musical, mas também, imageticamente falando. As produções dos desenhos capistas, que tiveram o apogeu na Era do LP, viram surgir novos formatos como os cartuchos 8 - track, as fitas K7, os CDs e, mais recentemente, os mp3, e viram, também, sua própria importância, enquanto arte desenhística em capas de discos, sucumbir diante dessas novas tecnologias.


PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Tecnológico; Suportes Fonográficos; Desenhos Capistas.


INTRODUÇÃO 
O desenvolvimento tecnológico dos suportes fonográficos vem ocorrendo ao longo de mais de 150 anos passados, desde o surgimento do fonoautógrafo (1857), dos primeiros fonógrafos (1899) — com seus cilindros — e dos primeiros gramofones (também no final do século XIX) — com seus círculos / discos. No entanto, a história dá conta que, a princípio, não havia a personalização de desenhos nestes formatos e, menos ainda, a arte capista. Em tempos mais contemporâneos, foi com o LP que esta teve seu real apogeu, e fez da arte de desenhar capas, algo extremamente importante para a indústria dos discos. Posteriormente, com o surgimento de novos formatos midiáticos como o cartucho 8 - track, a fita cassete (K7), o CD (compact disc) e o mp3 (MPEG-1/2 Audio Layer 3), o LP foi perdendo espaço e, com ele, o que se viu foram os desenhos capistas serem relegados a segundo plano e, porque não dizer, banalizados enquanto importância no conjunto música-imagem. 


Ao longo da história da indústria fonográfica brasileira e mundial, até os dias atuais, os formatos midiáticos foram evoluindo, sobretudo em termos de formas de veiculação musical. No entanto, o que ocorreu junto a essa evolução do desenvolvimento tecnológico dos suportes fonográficos, foi a involução capista e seu quase desaparecimento. Dos LPs ao formato mp3, afinal: qual o lugar do desenho capista?


1- O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS SUPORTES FONOGRÁFICOS: DO LP AO MP3
A tecnologia que, ao longo das décadas, trouxe a evolução para diversas vertentes da vida social, deu à indústria fonográfica várias possibilidades de formatos midiáticos que se tornaram ícones na história da música, como, por exemplo, do LP ao mp3: e é por esse caminho que fazemos essa viagem.
O LP (figura 1), também conhecido como disco de vinil, foi desenvolvido nos anos de 1940 e, a partir de então, passou a ser uma das mídias mais populares do mundo.





Figura 1 – Long Play
Fonte: http://www.jonathangazeley.com/wp-content/uploads/2011/12/lp.jpg

No entanto, mesmo com a grande aceitação das músicas guardadas nos sulcos plásticos dos LPs, eles, aos poucos, foram tendo a concorrência de novos suportes fonográficos e, muitas vezes, cedendo seu lugar para estes, como foi o caso do cartucho 8 – track (figura 2).



Figura 2 - Cartucho 8 – track (parte externa e interna, respectivamente)
Fontes: http://queresfugircomigo.blogspot.com.br/2009_04_01_archive.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartucho_%28%C3%A1udio%29

Não muito popular no Brasil, esse cartucho trazia um novo modo de gravação e formato material : “Popular nos EUA nas décadas de 60 e 70, essa mídia foi a pioneira em gravar conteúdos sonoros em fitas magnéticas. (...) essa mídia foi a precursora no desenvolvimento de equipamentos sonoros portáteis”[2].
O cartucho 8 - track evoluiu para fita K7 (figura 3), tendo a vantagem de ser menor. No início tinha baixa qualidade sonora, mas após reparos se tornou mais eficiente e se popularizou no mundo inteiro: “Entre a década de 1970 e os meados da década de 1990, o cassete era um dos dois formatos mais comuns para a música pré-gravada, junto aos discos de vinil (compactos e LPs)[3]”.

Figura 3 - Fita K7
Fonte: http://aninhamusicadance.blogspot.com.br/2012/07/historia-das-queridas-fitas-cassete-k7.html

Apesar da sua baixa qualidade sonora, é inegável que o surgimento das fitas K7 trouxe alguns ganhos em relação, sobretudo, aos “bolachões” de vinil: “o lançamento delas foi uma grande revolução, por difundir a possibilidade de gravar e reproduzir som. O vinil era mais caro, além de mais difícil de transportar e tocar e principalmente para gravar”[4]. Além disso foram elas, as fitas cassetes que “(...) nos deram mais liberdade para sair por aí e ouvir nossas canções favoritas onde bem entendêssemos”[5]. Foi com elas que tivemos a primeira grande oportunidade de ouvir as músicas que quiséssemos no rádio toca-fitas dos nossos carros. 
Mas, após a criação, difusão e expansão deste formato, onde as músicas eram guardadas como padrões de magnetismo, viria uma outra novidade que iria transformar o modo de receptividade da música na indústria fonográfica: O CD[6] (figura 4): “Há exatos 30 anos, no dia 01 de outubro de 1982, a Sony Music colocava nas prateleiras japonesas “52nd Street”, de Billy Joel, o primeiro compact disc (CD) da história”[7].



Figura 4 – CD (Compact_Disc)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Compact_Disc



No entanto, “Com a chegada do CD, a digitalização do áudio e a consequente popularização da internet, a pirataria chegaria com força e ameaçaria as vendas dos álbuns a partir de meados dos anos 1990”[8]. A verdade é que, com o tempo, esse tipo de mídia começou a desaparecer do mercado. Lojas de discos fecharam as portas e o formato mp3[9] via download[10] (figura 5), que já vinha ganhando espaço, toma seu total lugar de destaque, consequentemente: “(...) o padrão MP3, (...) permite gravar um som com qualidade tão boa quanto um CD, ocupando cerca de 10% do tamanho original”[11].





Figura 5 - Funcionamento de um Download (Foto: Reprodução/The Techy)
Fonte: http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/05/o-que-e-download.html

É fato que, sai década, entra década, os formatos fonográficos não param de evoluir e serem modificados. A forma de gravar e veicular canções vive em constante transformação. Entretanto, as mudanças não são apenas no âmbito das músicas, mas também das imagens, sobretudo dos desenhos capistas: estes sofreram grandes variações e interferências a cada nova mídia criada pela indústria fonográfica.

1.2- O DESENHO CAPISTA: DO DESTAQUE NO LP AO DESCASO NO MP3
Antes das capas de discos personalizadas havia apenas embalagens, invólucros que protegiam os discos. Nossa sociedade não estava acostumada, nem mesmo preocupada, com a falta das imagens. No entanto, com o tempo, os desenhos foram ganhando espaço e notoriedade, sobretudo quando da feitura capista fonográfica. 
O que veio a se convencionar chamar de capa de disco aqui é “(...) entendida como a embalagem informativa e personalizada que contém o produto fonográfico, no início do século chamado de ‘chapa’ e posteriormente conhecido popularmente como disco” (LAUS, 1998, p. 102) - esta sim pode ser considerada capa e que, por isso, tornou-se um meio de veicular a proposta musical de seus artistas. No entanto, de destaque na Era do LP (de 1948 até o início dos anos 1990), a arte de desenhar capas de discos chegou aos anos 2000 enfraquecida e, muitas vezes, rejeitada com a expansão e difusão do mp3.
A produção capista mundial viu, ao longo da sua história, a partir do desenvolvimento tecnológico dos suportes fonográficos, as mudanças acontecerem. O Brasil, por exemplo, viu na década de 1950 o início da personalização de capas de discos, mas chegou à década 1960 com projetos gráficos ainda um tanto amadores: sem capistas de ofício, por assim dizer, “(...) porque ainda não havia no país uma escola de design dedicada a este fazer[12]”. Entretanto, vale ressaltar que “As práticas visuais no Brasil se consolidaram nas décadas de 1960 e 1970 que, através da difusão da TV, apontavam timidamente no cenário fonográfico[13]”. 
Sabe-se que no mundo muitos desenhos de capas de LPs tornaram-se referências visuais para gerações e gerações de apaixonados pelas imagens capistas – e, muitas destas, até hoje estão vivas em nossas lembranças. No entanto, ao longo de toda a história da indústria fonográfica, vimos que os desenhos capistas passaram do destaque no LP - fazendo história, virando memória - ao desgaste no mp3 – onde, muitas vezes, são postos em segundo plano ou sequer aparecem.

a. O LP E O DESTAQUE DO DESENHO CAPISTA
Com o formato 31 cm x 31 cm o long play possibilitou aos capistas um grande espaço para o desenho e seus elementos impressos com qualidade e muito, muito bom gosto e sofisticação. No Brasil, por exemplo, na década de 1950, tivemos o início da personalização das capas dos LPs. Na década seguinte o LP continuava a ser uma das principais mídias fonográficas e com ele suas capas ganhavam destaque. Aliás, por aqui, ao longo das décadas, enquanto os LPs ainda tinham grande produção, os projetos gráficos brasileiros se destacavam por capas de discos marcantes. 
Mundo afora, os desenhos de capas de discos fizeram história (figura 6), ano após ano, resultando numa das culturas materiais mais importates no âmbito artístico-cultural-imagético.

Figura 6 – Capas dos discos Nevermind – 1991 (Nirvana) e Darkside of the Moon – 1973 (Pink Floyd)Fonte: http://www.papodebudega.com/2011/09/anima-info-1460.htmlFonte: http://hqrock.files.wordpress.com/2011/05/dark-side-of-the-moon1.jpg

No entanto, com o tempo, esse formato foi perdendo força e cedendo lugar para novas possibilidades fonográficas – mídias menores surgiram e, com elas, as dimensões capistas foram reduzidas significativamente.

b. O CARTUCHO 8 – TRACK, A FITA K7 E O CD: A DIMINUIÇÃO DAS DIMENSÕES E A PERDA DA QUALIDADE DE IMAGEM
O surgimento do cartucho 8 – track deu para a indústria fonográfica novas possibilidades de gravação e veiculação musical. No entanto, cabendo numa das mãos, esse cartucho trouxe também o início da diminuição das dimensões e da importância do desenho nas produções capistas. 
Depois do cartucho 8 - track, passamos pela criação (início dos anos 60) e difusão da fita K7 com capas de dimensões pequenas 10 cm x 7 cm, onde, muitas vezes, a imagem trazia pixels distorcidos e borrados. No Brasil, diversos artistas lançaram seus discos de vinil e, paralelamente, suas fitas K7 também eram produzidas, para a alegria de quem preferia a portabilidade desse formato, em detrimento dos LPs, sem se importar com a perda da qualidade capista. 
Ainda nos anos 1980, novos estilos/movimentos musicais vieram a surgir e, com eles, a chegada do CD com dimensões capistas de 12 cm x 12 cm, que em termos de escala, se comparado aos antigos álbuns de vinis, ou até mesmo, das capas individuais dos LPS, eram de tamanho pífio, mas, ainda assim, com a preocupação de levar a imagem junto à música.
Mesmo com dimensões menores para a produção de capas destes discos compactos, foi exatamente o desafio da pirataria que fez este formato midiático buscar nas inovações capistas seu ponto de fuga. A criatividade e as ideias de embalagens que foram surgindo com os CDs, trouxeram, muitas vezes, a “(...) vontade irresistível de comprar o novo álbum do seu artista preferido, (...) pelo visual ou pelos brindes (...) mas também pelo preço, que (...) pode ser bem em conta, fazendo com que não compense baixar musicas com baixa qualidade de gravação”[14]. Mas, apesar de tamanha criatividade, a verdade é que se perdeu um pouco, na Era dos CDs, o trabalho espontâneo do artista que tanto se viu, sobretudo, na criação capista dos LPs.
Com o tempo, as capas de discos que com o CD já tinham sua força imagética diminuída, não desapareceram, mas tornaram-se, em muitos casos, meras produções necessárias para a feitura do disco.
A realidade atual dá conta de que estamos vivenciando a Era do mp3, e os desenhos das capas de discos, que tiveram seu auge junto ao sucesso e difusão dos LPs, viram seu lugar de destaque sucumbir.

c. O MP3 E O DESCASO DO DESENHO CAPISTA
Já no início dos anos 1990 chegamos ao formato mp3. A partir daí o que se viu foi, após a derrocada dos LPs e das fitas K7s, agora a dos CDs, e com ela, a imagem das capas de discos sucumbir diante da tecnologia ali posta. 
As pessoas passaram a não ter mais o hábito de ir às lojas procurar, contemplar, escolher e comprar uma obra fonográfica a partir dos elementos de suas capas e de seus fonogramas. As capas de discos, e com elas seus desenhos, antes objeto de desejo e contemplação, passaram a ser elemento apenas anexo (quando o inserem) na febre do download de músicas via web[15]. 
A verdade é que as capas de discos/ CDs, assim como os fonogramas, são as mais prejudicadas na era dos downloads gratuitos. Isto porque, “A arte na capa dos LPs propicia a associação da música ao contexto da época em que foi produzida, como também pode ser compreendida como ilustração sonora”[16]. 
Muitos discos são postados inteiros na internet, porém, a maioria deles sem as devidas imagens capistas, o que, na verdade, pouco importa para a maioria das pessoas que prefere baixar músicas a comprar um CD original.
Percebe-se, com isso, que a imagem na indústria fonográfica, sobretudo a brasileira, tem perdido espaço. Até por isso mesmo muitas gravadoras têm fechado suas portas e não produzem mais discos.
Com o mp3 perde-se em termos da não possibilidade de contemplação da arte dos desenhos capistas, na maioria das vezes, pois nem todos os downloads de músicas trazem as capas junto. Perde-se, também, no descontrole desenfreado da pirataria, que, com mídias de péssima qualidade, reproduz o que é produzido na indústria fonográfica, sem preocupações com direitos autorais – sem falar que, também a pirataria, não se preocupa com a qualidade imagética. Por outro lado é inegável que se ganha em portabilidade, dinamicidade no processo de divulgação de trabalhos artísticos, em rapidez de acesso à música. Mas, vale ressaltar que, até mesmo nesse tipo de formato, há um esforço, por uma parte da indústria fonográfica mundial, em buscar embalagens criativas para lançar os álbuns de seus artistas via pen drives – o que não reduz, no entanto, o imenso vazio que sentem os apreciadores da cultura material capista, com suas dimensões maiores e seus desenhos fisicamente presentes em suas mãos e perto de seus olhares.
O fato é que, na estratégia de novas mídias, muitos artistas têm postado, eles próprios, seus trabalhos para serem ouvidos e/ou comprados via sites da web. E, muitos destes também, não postam capas juntamente com seus trabalhos divulgados - ou, quando postam, não dão lugar de destaque para o desenho no projeto gráfico do disco. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento tecnológico dos suportes fonográficos trouxe consigo inovações que geraram revoluções incríveis para os amantes da música. Do LP, passando pelo cartucho 8 – track, pela fita K7, pelo CD e chegando ao mp3, vimos mudanças significativas ocorrerem e trazerem, sobretudo, a portabilidade e a possibilidade de compartilhamento mais facilitado entre as pessoas. Em contrapartida, foi em termos imagéticos que as novas mídias musicais viram seus novos meios de veiculação fazer do desenho capista algo que passou do patamar de destaque em tempos de LPs, para um quase desuso na Era do mp3. 
Sabemos que a história da música e dos formatos midiáticos para veiculação do seu produto fonográfico nunca irá chegar a um modelo definitivo. Fala-se muito da volta efetiva dos LPs ao mercado. Mas, independente da volta ou não destes, os formatos que estiverem sendo veiculados deveriam preocupar-se em dar lugar de destaque aos desenhos capistas, pois muitas produções artísticas musicais da história da indústria fonográfica tiveram, em suas capas, sua maior marca - muitos se tornaram ícones imagéticos: entraram para história... viraram memória.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rodrigues, Jorge Caê. Anos fatais: design, música e tropicalismo. Rio de Janeiro: Editora Novas Ideias 2AB, 2007.

Websites visitados
http://aninhamusicadance.blogspot.com.br/2012/07/historia-das-queridas-fitas-cassete-k7.html
http://hqrock.files.wordpress.com/2011/05/dark-side-of-the-moon1.jpg
http://obviousmag.org/archives/2011/10/lado_b_a_historia_das_fitas-cassetes.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cartucho_%28%C3%A1udio%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Compact_Disc
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fita_cassete
http://queresfugircomigo.blogspot.com.br/2009_04_01_archive.html
http://wp.clicrbs.com.br/grings/2012/10/01/ha-30-anos-nascia-o-compact-disc/
http://www.historiaimagem.com.br/edicao13outubro2011/rock.pdf
http://www.jonathangazeley.com/wp-content/uploads/2011/12/lp.jpg
http://www.papodebudega.com/2011/09/anima-info-1460.html
http://www.significados.com.br/web/
http://www.soundonsound.com.br/forum/entry.php?124-A-Hist%F3ria-do-MP3
http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/05/o-que-e-download.html
http://www.tecmundo.com.br/infografico/30658-a-evolucao-do-armazenamento-de-musicas-infografico-.htm

[1]Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail de contato: valeriananci@ig.com.br. Autora deste artigo. Licenciada em Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana - BA. Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana - BA. Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino pela Universidade Salgado de Oliveira - RJ. Especialista em Formação Continuada em Mídias na Educação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - BA. Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana - BA. 
[2]Fonte:http://www.tecmundo.com.br/infografico/30658-a-evolucao-do-armazenamento-de-musicas-infografico-.htm
[3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Fita_cassete
[4] http://obviousmag.org/archives/2011/10/lado_b_a_historia_das_fitas-cassetes.html
[5] Ibidem.
[6] Compact Disc
[7]Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/grings/2012/10/01/ha-30-anos-nascia-o-compact-disc/
[8] Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/grings/2012/10/01/ha-30-anos-nascia-o-compact-disc/
[9] Foi um dos primeiros tipos de compressão de áudio com perdas quase imperceptíveis ao ouvido humano. O seu bitrate (taxa de bits) é da ordem de kbps (quilobits por segundo), sendo 128 kbps a taxa padrão, na qual a redução do tamanho do arquivo é de cerca de 90%, ou seja, o tamanho do arquivo passa a ser 1/10 do tamanho original. Fonte: http://www.soundonsound.com.br/forum/entry.php?124-A-Hist%F3ria-do-MP3
[10] Termo que corresponde à ação de transferir dados de um computador remoto para um computador local. Essa cópia de arquivos pode ser feita tanto a partir de servidores dedicados (como FTP, por exemplo), quanto pelo simples acesso a uma página da Internet no navegador. Fonte: http://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/05/o-que-e-download.html
[11] Ibidem.
[12] Fonte: http://www.historiaimagem.com.br/edicao13outubro2011/rock.pdf
[13] Rodrigues, Jorge Caê. Anos fatais: design, música e tropicalismo. Rio de Janeiro: Editora Novas Ideias 2AB, 2007. 
[14] Ibidem
[15] Web é uma palavra inglesa que significa teia ou rede. O significado de web ganhou outro sentido com o aparecimento da internet. A web passou a designar a rede que conecta computadores por todo mundo, a World Wide Web (WWW). Web pode ser uma teia de aranha ou um tecido e também se utiliza para designar uma trama ou intriga. (...) A web significa um sistema de informações ligadas através de hipermídia (hiperligações em forma de texto, vídeo, som e outras animações digitais) que permitem ao usuário acessar uma infinidade de conteúdos através da internet. Fonte: http://www.significados.com.br/web/

[16] Fonte: http://www.historiaimagem.com.br/edicao13outubro2011/rock.pdf



A BASE DA EDUCAÇÃO ESCOLAR: A ARTE COMO ESTÍMULO À APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

           Valéria Nancí
Geógrafa e Publicitária

 Pensar sobre o caos que vivenciamos na área educacional atual, sobretudo nas escolas públicas brasileiras, nos remete a refletir sobre o imediatismo de um mundo cada vez mais globalizado e sedento de resultados rápidos e eficazes. Não existe fórmula mágica, nem elixir, nem mesmo antídoto milagroso para sanar tal mal. Também somente desejar que isso não ocorra, não é o suficiente: é preciso agir. A educação necessita de uma boa base para sobreviver e permanecer com o status do nome a ela designado. As escolas necessitam repensá-la numa perspectiva de processo, que deve vir atrelado a uma qualidade, para aí sim, chegarmos àquilo que se almeja: o aprendizado significativo.  Nessa perspectiva, a arte surge como forma de mediação necessária e integradora, pois ela, a arte, estimula e reforça conteúdos e vivências relevantes para todo e qualquer ser humano.

            O caso das inteligências múltiplas
            Desde crianças, somos submetidos a profissionais, por vezes, não qualificados, que tendem a reproduzir conhecimentos sem a mínima intenção de formar seres pensantes. Não os chamo professores, nem mesmo educadores, pois acho que estes sim, para receber tais nomenclaturas, estão em outro patamar: num patamar de seres humanos que desejam suscitar a criticidade no outro; almejam dar ao outro a possibilidade de pensar e, aí sim, fazer parte de um mundo real: o da educação que forma e transforma.
            A ideia da escola ideal ainda é somente uma ideia. Observamos, a todo momento, que a  aprendizagem fora relegada a segundo plano e, os indivíduos envolvidos neste processo apenas como ouvintes, tornaram-se “escravos” de um sistema educacional que de nada vale às reais necessidades humanas: o pensar e o refletir .  
            Se para tudo há um começo, na educação nunca foi, e nunca será, diferente. A chamada base é o “start” para nossa vida de aprendizados na sala de aula. O cuidado com esta é fundamental, pois é ela, a base, que nos dará as primeiras impressões e significações para nos interessarmos, ou não, por um simples “querer estudar”.
            A base educacional deve trazer estímulos à criança, pois, é de suma importância para o desenvolvimento da mesma que haja situações que lhe oportunize formas de perceber-se como parte integrante e atuante de uma sociedade. Além disso, já nessa fase ela pode começar a descobrir seus dons e habilidades através dos estímulos do ambiente no qual está inserida, pois como afirma Gardner (p. 32, 1995)  “... nos anos pré-escolares e nos anos iniciais elementares, a instrução deve enfatizar a oportunidade. É durante esses anos que as crianças podem descobrir alguma coisa sobre seus interesses e capacidades peculiares”.
O mesmo Gardner em seu livro “Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática” relata que todos nascem com potencial de várias inteligências - musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal, intrapessoal - mas desenvolvem mais algumas que outras, e que esse processo depende das relações com o ambiente e dos estímulos culturais aos quais o indivíduo está inserido - logo, também na área de educação, devemos adaptar as formas de ensino a tais variáveis da inteligência humana.


Do platônico ideal ao ensino real: o poder da arte musical
Desde sempre a arte deveria estar presente na vida doméstica e escolar das crianças. Estas, se bem mediadas, poderão “canalizar” e sistematizar seus dons, recebendo e proporcionando uma contribuição artística e, consequentemente um grande enriquecimento cultural, sobretudo no que se refere a um embasamento crítico-reflexivo em meio à educação. Com efeito, cabe frisar que o papel da escola, nesse caso, seria de suma importância para fazer da arte uma constante em sala de aula, e por sua vez, mais valorizada e eficaz na formação sócio-intelectual do cidadão – mas, nem sempre é isso que ocorre.
Vários são os empecilhos para a adoção mais consistente de um tipo de trabalho com arte em sala de aula, sobretudo por conta do descaso da importância da mesma para intermediar o processo ensino-aprendizagem – e isso não é recente, pois como afirma Read (1958, p.13): “Platão defendia a séculos a tese de que a arte deveria ser a base da educação, porém os intelectuais têm jogado com sua tese como um brinquedo”. Ainda de acordo com Read (1958, p.13): “(...) trataram o ideal mais apaixonado de Platão como um paradoxo inútil, que só pode ser compreendido no contexto de uma civilização perdida”.
É para esses “ditos” intelectuais, que desde a época de Platão não compreendiam, ou não queriam compreender o valor da arte para a educação, que não devemos sucumbir. Se sabemos o quanto podemos nos tornar, e tornar os educandos, seres cada vez mais críticos e pensantes através do contato com a arte, não devemos, quiçá, imaginá-la distante da prática pedagógica.
Há algumas artes que poderíamos dizer que são tão acessíveis, que só não as utiliza os “professores” que não desejarem – a música é uma delas.  Ela é, entre as artes, aquela que permite expressar, do modo mais puro, os sentimentos humanos. Então, por que relutar tanto em utilizá-la em sala de aula? Permeando tal assunto, Pereira (2002, p.87- 89) afirma “A educação musical que pretendemos começará na Educação Infantil (não esquecer a estimulação nos berçários) e continuará durante toda vida escolar”.
Para a autora essa continuidade precisa ser vista não somente como uma questão de carga horária, mas como um empreendimento realmente pedagógico. Além disso, Bovone (1971), apud Pereira (2002, p. 88 - 89) explicitou objetivos os quais deveriam fazer parte do trabalho voltado à educação infantil. Dentre eles foram citados objetivos gerais tais como “Possibilitar que a criança ame a música e se expresse através dela; Formar valores que a iniciem no gosto estético; (...) Estimular o desenvolvimento do respeito pelas tradições; Detectar problemas motores, de conduta e de aprendizagem”.
Não há dúvida: são objetivos fundamentais para o desenvolvimento de um trabalho educacional, que se julgue, válido, fundamentado e com bases sólidas, bem como tantos outros que também foram citados por Bovone (1971), apud Pereira (2002, p. 88 - 89) como: “(...) Favorecer o desenvolvimento global; Contribuir para o desenvolvimento cognitivo, com a estimulação do desenvolvimento temporal-espacial; Contribuir para a obtenção da maturidade necessária ao ingresso no mundo das coisas materiais”.
Já os objetivos específicos elencados, por Bovone (1971), apud Pereira (2002, p. 88 - 89) deram conta da importância do “Cultivo da voz; Cultivo do ouvido; Cultivo do ritmo; Cultivo da sensibilidade musical”.
É importante, portanto, que a nossa sociedade, tão sedimentada em aspectos técnico-educacionais, deixe de lado as lembranças e ações de tempos mais remotos, onde as práticas de exposição conteudistas eram uma constante em nossas escolas.  Faz-se necessário que todos, sem exceção, entendam e aprendam a real importância da utilização da arte (aqui em especial a música) em nossas vidas cotidianas, e em sala de aula, desde que iniciamos a vida escolar – e até mesmo antes de chegarmos a ela.
A defesa, aqui, de forma tão consistente da utilização musical junto à educação a partir da infância, tem muito fundamento, visto que, se esta permear toda a vida escolar, tornar-se-á instrumento de mediação para a aprendizagem junto a aspectos formais: e isso, pode sim, deixar de ser apenas um chamado platônico ideal para ganhar o status ensino real.

A arte que sensibiliza é a mesma que educa
Num âmbito geral, desde a infância até a fase adulta, a arte como um todo tem o nobre poder de sensibilizar e tocar nos mais profundos sentimentos da alma humana. Ela, a arte, nos entretêm, diverte e nos torna, particularmente, seres pensantes. E, não é de hoje que a mesma se faz presente em nossas vida. Conforme Araújo (2001, p. 37) “Desde os tempos mais remotos e primordiais da história da humanidade a arte tem sido uma forma de expressão e de conhecimento humano com presença fundante e expressiva na dinâmica da cultura humana”.
Bem como a educação, a arte penou durante muito tempo com o mecanicismo exacerbado vigente na sociedade em diversos contextos. E bem como a educação, também, sofreu com a linearidade repressora de um sistema fechado, e dito acabado, onde o pensamento e as infinitas possibilidades de imaginação inexistiam.
A compreensão de que a arte é necessária para trazer novos ares e pensamentos à humanidade, nos faz crer que o processo de ensino urge por sua presença como mediação sensibilizadora para um real aprendizado. A educação sem a arte, que há tempos sofria com o engessamento dos modelos ditos educacionais, ainda sucumbe à práticas de igual valor, como afirma Araújo (2001, p. 48) “A criatividade, a imaginação, a compreensão crítica são recalcadas nos processos embolorados de reprodução insípida e decadente. Formas e conteúdos são cristalizados em modelos lineares e monolíticos”. 
Como educadora defendo a presença da arte na escola: não como disciplina à parte, mas como parte da disciplina. Explico: as múltiplas possibilidades proporcionadas pela arte como integradora, sensibilizadora, modificadora, multiplicadora, pluralizadora, a faz única dentro do que veio a se convencionar facilitadora. Nesse sentido a arte não pode, nem deve, ser vista como um simples recurso pedagógico: seres humanos críticos e pensantes necessitam desta para elevar a imaginação, a criatividade e a compreensão holística da vida – o que deve ser posto em prática desde a base; desde a educação infantil.
Como ser humano acredito na arte como possibilidade de enxergar sempre à diante.  Quem traz dentro de si um pouco de arte traz riqueza; traz um poder imaginário infinito; traz a certeza de se saber sábio.  Daí a afirmação: a arte que sensibiliza é a mesma que educa. Sejamos, pois, artisticamente educados: assim seja!

Referências
ARAÚJO, Miguel Almir L. de. Os sentidos da Arte. Coexistência entre Arte e Educação. Cadernos de Educação. Ano 3, n. 4, jan/jun. 2001, p. 37-54, UEFS. Feira de Santana-BA.
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
PEREIRA, Mary Sue. A Descoberta da Criança: Introdução à Educação Infantil. Rio de Janeiro: WAK EDITORA, 2002.
READ, Herbert. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1958.